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sábado, 21 de junho de 2025

Me identifico como afro-indígena.

Brasil.
Sábado, 21 de junho de 2025.
02:00 da manhã.

Por muito tempo eu pensei que eu era e me fizeram pensar que eu era apenas negra. Quando eu comecei a me declarar na inscrição de provas vestibulares eu me declarava como preta. Eu continuo me declarando como preta e sempre vou me declarar, porque, é visível, isso é o que mais sobressaiu em mim. Só que eu não sou só negra e de uns anos pra cá eu comecei a pensar muito nisso, quem eu sou e por quem ou de quem eu sou feita. Eu sou feita de sangue de negros, brancos e indígenas. E isso molda o meu fenótipo, o meu modo de ser e de agir, o meu instinto e até o meu caráter. O sangue é um só, pois acredito em Deus e a Bíblia diz que de um só sangue e de um só homem toda a humanidade foi feita. Mas a humanidade é feita de raças diversas. Eu sou feita de pelo menos três dessas raças. Apesar de ainda não haver essa opção na inscrição de vestibulares, quem sabe um dia, hoje em dia eu me considero como afro-indígena. Indígena não por viver como indígena, porque eu não vivo como indígena, mas porque eu tenho sangue indígena. Sangue indígena contribuiu para a formação de quem eu sou hoje, de quem eu sou desde que fui gerada. E eu não posso mais ignorar isso, anular uma raça, essa raça, que existe, dentro de mim se ela existe e está gritando dentro de mim, clamando manifestação. Reconheço leves traços indígenas na minha face quando eu me olho no espelho. Os meus olhos levemente puxados. Um dia na escola, na minha 6a série do Ensino Fundamental, cursada  em 2007, zombaram da minha aparência, falando dos meus olhos, da minha boca, do meu nariz, da minga testa, e até das minhas orelhas. Na época eu não tinha informação suficiente para rebater e calar o preconceito, o racismo. No ano seguinte, em 2008, fazendo aceleração de 7a e 8a séries, uma colega de turma amiga e um professor querido me perguntaram em uma aula se eu tinha ascendência indígena por causa dos meus olhos puxados e eu falei que sim, pois eu já sabia que eu tive um avô materno que era indígena; em casa eu cresci ouvindo a minha mãe falar sobre isso, e só agora na fase adulta, há alguns anos, que eu vim saber que eu tenho ascendência indígena também na família paterna. Aquela dúvida e pergunta gentil e educada da minha colega amiga e do professor em um dia comum de aula me fizeram começar a despertar para isso. Um dia em 2011, eu já no último ano do Ensino Médio quando eu tirei foto 3x4 pra documento e as fotos já reveladas chegaram às mãos da minha mãe ela disse que eu estava parecendo uma "índia" na imagem, depois que ela falou eu também tive a sensação e passei a achar que de fato tinha uma lembrança ali naquelas fotos,  e foi então que eu passei ainda mais a reparar nos meus poucos e leves traços indígenas.  Tenho ascendência indígena dos dois lados, tanto por parte de mãe quanto ou como por parte de pai. A minha bisavó paterna e um bisavô materno meu eram descendentes indígenas. E não digo que sou afro-indígena como para tentar benefícios por meio disso. Não. Eu não pretendo me declarar em parte indígena por querer me aproveitar, tirar vantagem de algo que eu nunca vivi no meu dia a dia e os direitos de quem realmente vive isso na prática em seu dia a dia e sofrer por ser e viver isso e luta e morre assassinada, por inimigos brancos e negros a mando de brancos, como antigos feitores e capitães-do-mato, e até por gente indígena que foi corrompida por esse sistema decadente de mundo, implementado, suplantado no mundo, por isso na linha de frente e nas trincheiras da vida. Eu mal tenho feito uso das cotas para negros! Mas defendo as cotas. Cotas para pretos pardos e indígenas, separadamente, cotas para quem veio de escolas públicas, cotas para deficientes. Sim, tem que haver. Precisa haver. Mas quero participar e contribuir ativamente e cada vez mais na luta dos direitos dos indígenas e defendê-los junto à minha luta antirracista em favor de nós negros. Quero e vou lutar pelos direitos dos dois lados e incentivar a união entre os dois povos e não a desunião que indivíduos dos dois lados tentam pregar. Já estou lutando. Sinto e sei que juntos podemos ser mais fortes contra o sistema racista. Não descarto a minha herança vinda dos meus ancestrais brancos, ela está aqui em algum lugar dentro de mim na minha composição, intrínsecada na minha essência, mas pelo fato de eu me ver, me olhar no espelho e me enxergar negra e indígena, os lados mais frágeis e vitimados na História do Brasil, das Américas, da África, da Ásia e da Oceania por parte de um único continente que por séculos e séculos aterrorizou e matou gerações cometendo um genocídio, me faz pegar para mim o termo afro-indígena. Cafuzo foi um termo criado por colonizadores parar nomear pessoas nascidas da união entre negros e indígenas e por isso atualmente está caindo em desuso, sendo substituído por afro-indígena, que não necessária e diretamente é alguém nascido de mãe e pai indígena e negro, mas que descende da união entre essas duas raças por parte de avós ou familiares um pouco mais distantes mesmo também. A ciência humana comprova que não existe raça pura, a humanidade toda é misturada, até porque toda a humanidade veio de um ancestral comum, um homem deu origem à toda humanidade. Mas eu quero saber, ter uma certeza, quais são as raças mais próximas que deram origem a mim. E um dia eu pretendo fazer um teste de ancestralidade pra saber melhor a minha origem, de onde eu vim, quem me formou e contribuiu para que eu fosse como eu sou, biologicamente falando, de quais etnias dentro do universo da alteridade indígena e africana, pra ter mais certeza e falar sobre isso com mais e melhor propriedade, com verdade absoluta, pois tudo isso o colonizador europeu nos tirou, nos privou de sabermos a nossa origem. A modelo, atriz e ativista indígena Dandara Queiroz fez um teste de ancestralidade pra descobrir de qual etnia indígena ela pertencia e vinha, porque traços indígenas ela já tinha, embora, me parece, não vivesse como indígena, ela só queria saber de qual etnia ela vinha e pertencia, e isso me motiva, me motivou. 🌳🏹🌳

Escrito às 09:28-59-10:00-10-13-14-16-59, de 12/6/25.

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