Meio literário.
Brasil.
Domingo, 28 de junho de 2020.
04:30 a.m.
[Imagem: Sven Brandsma, no Unsplash.]
A última vez que me envolvi muito na amizade com uma escritora a coisa saiu dos trilhos. Descarrilhou.
E quem saiu culpada foi eu. Isto é, me culparam, porque eu mesma... não sinto culpa de nada! Não carrego culpa nenhuma, nem irei carregar! A única coisa da qual eu me arrependo nesse caso, e se eu pudesse voltar no tempo eu consertaria, foi de abrir as minhas portas e deixar entrar na minha vida gente que eu não conhecia antes pelo menos um pouquinho. Mas depois que coloquei para fora, o portão da minha casa, do lar onde habito, se fechou e jamais será aberto novamente a quem pus para fora. Será aberto apenas a outros. Nunca mais a quem saiu.
Por isso, desde que aconteceu, eu tento criar laços e manter amizades com outros escritores e escritoras, de modo que eu possa deixar boas marcas, boas lembranças na vida de outras pessoas, e permitir que elas deixem boas lembranças na minha vida também, igualmente, mas sem me envolver muito.
De hoje em diante, [fica estabelecido que] se eu puder ajudar alguém, ajudarei; se alguém precisar da minha ajuda e eu puder ajudar, não negarei uma ajuda, porém, sem muito me envolver, nem desenvolver maior afeto. Serei presente sem ser presente. Estarei junto sem entrega.
Peço desculpas se eu, tendo frequente contato com alguém, não me envolver muito nessa relação daqui para frente ou não corresponder de forma mais quentinha, não corresponder às expectativas. São marcas do passado deixadas em mim por outras pessoas com quem me envolvi demais. O envolvimento demasiado entre duas ou mais pessoas pode ser fatal, letal, deixar danos irreparáveis, irreversíveis. Mas também deixa lições que levamos para toda a vida.
~Cartas da Gleize. 🖂